A Copa tá aí, como já havia dito
anteriormente, vai ter Copa! E continuo achando a maior parte do que venho
lendo demasiado rasteiro. A FIFA vem sendo criticada de forma absolutamente
desproporcional e quase sempre eleitoreira. Parece que temos apenas dois
grupos... Os que odeiam a Copa e os que, em tese, são fãs da FIFA, do governo
etc. Deve ser chato pra esse pessoal, mas sou obrigado a desapontá-los.
A FIFA não é um exemplo de
instituição limpa. Acho que todos já sabem disso. Seus inúmeros escândalos de
corrupção ao longo do tempo deixam máculas expostas, facilmente propagadas para
quem quiser perder o mínimo de tempo pesquisando. No entanto, acho que por má vontade, burrice,
preguiça ou interesse, algumas pessoas insistem em atirar em alvos errados.
Tenho a sutil impressão de que o povo brasileiro é como um jogador perna de pau
e esforçado. Sabe, geralmente aquele camisa 8 viril e esforçado, mas que até
pra correr, corre errado. Elegemos nossos heróis de conduta ilibada e nossos
vilões mortais. O alvo preferido é a Dona FIFA! Os alvos secundários são Pelé,
Ronaldo e Joana Havelange (a nova bola da vez).
Começarei pelos últimos, para
facilitar um pouco. Joana Havelange, que numa declaração estúpida nos fez lembrar
os roubos de seu pai, disse que ‘o que tinha que ser roubado, já foi roubado’.
A verdade dói, mas não entendo como colocamos a culpa automaticamente nas
pessoas. O menor do poste merece uma segunda, uma terceira, uma enésima chance,
mas não Joana, que deu o azar de ser filha de quem é. Sem que esqueçamos que sua
declaração foi estúpida SIM.
O Pelé, que como todos sabem,
calado é um poeta, passou a ser alvo de diversos insultos. Quem me conhece sabe
que odeio o Pelé... Ou o Edson, não sei. Gosto daquele negão que deitou e parou
o mundo com seu futebol. Não vivi sua época, não o vi jogar em campo, mas é
fácil, com um mínimo de esforço, saber que ninguém soube tanto do esporte
bretão quanto ele. Soube capitalizar sua imagem, muito diferente de tantos
outros que vieram antes, durante e depois dele. Louros de seu próprio talento
até onde posso julgar. Notícias editadas, instrução mambembe, péssima
assessoria e paixão por futebol impedem que seus dribles possam atingir a
mídia, que procura e fabrica vilões com incrível velocidade e voracidade.
Ronaldo, que pelo menos até o
início da Copa será o maior goleador da história da competição é outro alvo
fácil. Mais malandro que Pelé, principalmente em frente aos microfones,
resolveu se envolver no COL, mas foi caçado pelos editores dos grandes jornais
e pelos usuários de redes sociais. “Uma Copa não se faz com hospitais”, disse o
gordo. Naturalmente, os surfistas das redes sociais não devem ter se dado ao
trabalho de buscar de onde veio tal declaração. Curiosamente, foi uma
declaração dada em uma longa entrevista, onde o Fenômeno falava sobre o que era
necessário para um mundial, como obras de mobilidade, estádios e infraestrutura
aeroportuária.
Ainda na fatídica entrevista, ele
defendeu o investimento pesado em setores como saúde e educação, mas que as
exigências da FIFA eram baseadas em outros aspectos. Meses depois, ele criticou
o atraso de nossas obras, bem como a cultura do “jeitinho brasileiro”. Enquanto
isso, nosso douto ministro dos esportes declarava que nunca foi a um casamento
em que a noiva não atrasasse. Bastou uma foto com o opositor e uma declaração
dizendo que se sentia envergonhado por conta dos atrasos que seus antigos
detratores ganharam novos adeptos. Com direito ao repúdio do ministro, da
presidente e de um dos maiores aproveitadores e eleitoreiros da Copa, Romário.
O curioso, principalmente no
último caso, é que muitos apoiadores do governo resolveram cair de pau no
ex-craque obeso. A classe política da situação se doeu demais e agora ele é o
mais novo duas caras do país. Seria até muito fácil dizer isso, se não houvesse
crítica ao moroso processo de realização da Copa há meses, anos. Mas como dá
trabalho pesquisar, caberá a ele o papel de vilão.
Quanto à FIFA? Bom, algumas vezes
chego a me divertir com as críticas que dizem que a FIFA deitou e rolou no
Brasil, que nos obrigaram a gastar o que gastamos, que não havia necessidade de
nada disso e que ela é responsável pelo rombo em nossos cofres públicos. A
diversão fica ainda maior quando essa crítica parte de gente que votou e
continuará votando no PT, pois tudo faz ainda menos sentido.
Foi o PT que conseguiu trazer a
Copa. Até aí, tudo lindo, ponto pro Lula. Foi o Lula que pediu junto à FIFA o
aumento no número de cidades-sede. A recomendação da entidade máxima do futebol
aconselhava de oito a dez sedes. Lula esticou a corda e pediu que o número
fosse ampliado. Mesmo sabendo de nossas dificuldades em cumprir prazos e de
nosso atraso em infraestrutura, eles cederam, mesmo com os avisos de Valcke,
que também virou alvo por ser sincero demais. Com o aumento das sedes,
naturalmente, nosso gasto seria elevado, mas pesariam dois fatores em nosso
favor. O primeiro seria o legado, ampliado e cobrindo uma parte maior de nosso
gigantesco do país. O segundo seria a maior mentira da Copa! A Copa da
iniciativa privada.
Como previsto, nada disso
aconteceu. Estádios superfaturados, estádios inúteis e superfaturados (os
famosos elefantes brancos) como a Arena Amazônia, a Arena Pantanal e o estádio
de Brasília (que nem sei mais como se chama) foram construídos ou remodelados.
Alguns outros, como o Maracanã, por exemplo, foram entregues a empresas
privadas sem que qualquer legado para o povo ou para os clubes de futebol perdurassem
após a competição. Nós, através de nossos governantes, aceitamos o caderno de
encargos da FIFA e nos comprometemos a cumprir suas exigências. Ressalto que a
maioria delas seria benéfica para o país, mas não soubemos aproveitar e agora
culpamos o evento. O mesmo deverá acontecer nas Olimpíadas, mas a bola da vez é
a COPA.
Somos o volante que tem vontade,
mas não sabe correr. Somos o marido traído que pega a esposa com o amante no
sofá de casa e vende o sofá. A culpa não é da Copa, a culpa não é da FIFA, ela
é só nossa. Já perdemos o melhor que a Copa poderia nos oferecer. Resta-me torcer
pelo hexa. Tudo muito amargo, mas não torcerei para que a seleção fracasse por
conta disso. Em meio a tanta tristeza, merecemos essa pequena alegria.
“De todas as coisas pouco
importantes do mundo, o futebol é a mais importante delas.” (Autor
Desconhecido).
Thigu Soares
Birite: Guiness (Amarga e gostosa como a vida).
Birite: Guiness (Amarga e gostosa como a vida).
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