quarta-feira, 28 de maio de 2014

A Culpa é da FIFA?!





A Copa tá aí, como já havia dito anteriormente, vai ter Copa! E continuo achando a maior parte do que venho lendo demasiado rasteiro. A FIFA vem sendo criticada de forma absolutamente desproporcional e quase sempre eleitoreira. Parece que temos apenas dois grupos... Os que odeiam a Copa e os que, em tese, são fãs da FIFA, do governo etc. Deve ser chato pra esse pessoal, mas sou obrigado a desapontá-los.

A FIFA não é um exemplo de instituição limpa. Acho que todos já sabem disso. Seus inúmeros escândalos de corrupção ao longo do tempo deixam máculas expostas, facilmente propagadas para quem quiser perder o mínimo de tempo pesquisando.  No entanto, acho que por má vontade, burrice, preguiça ou interesse, algumas pessoas insistem em atirar em alvos errados. Tenho a sutil impressão de que o povo brasileiro é como um jogador perna de pau e esforçado. Sabe, geralmente aquele camisa 8 viril e esforçado, mas que até pra correr, corre errado. Elegemos nossos heróis de conduta ilibada e nossos vilões mortais. O alvo preferido é a Dona FIFA! Os alvos secundários são Pelé, Ronaldo e Joana Havelange (a nova bola da vez).

Começarei pelos últimos, para facilitar um pouco. Joana Havelange, que numa declaração estúpida nos fez lembrar os roubos de seu pai, disse que ‘o que tinha que ser roubado, já foi roubado’. A verdade dói, mas não entendo como colocamos a culpa automaticamente nas pessoas. O menor do poste merece uma segunda, uma terceira, uma enésima chance, mas não Joana, que deu o azar de ser filha de quem é. Sem que esqueçamos que sua declaração foi estúpida SIM. 



O Pelé, que como todos sabem, calado é um poeta, passou a ser alvo de diversos insultos. Quem me conhece sabe que odeio o Pelé... Ou o Edson, não sei. Gosto daquele negão que deitou e parou o mundo com seu futebol. Não vivi sua época, não o vi jogar em campo, mas é fácil, com um mínimo de esforço, saber que ninguém soube tanto do esporte bretão quanto ele. Soube capitalizar sua imagem, muito diferente de tantos outros que vieram antes, durante e depois dele. Louros de seu próprio talento até onde posso julgar. Notícias editadas, instrução mambembe, péssima assessoria e paixão por futebol impedem que seus dribles possam atingir a mídia, que procura e fabrica vilões com incrível velocidade e voracidade.

Ronaldo, que pelo menos até o início da Copa será o maior goleador da história da competição é outro alvo fácil. Mais malandro que Pelé, principalmente em frente aos microfones, resolveu se envolver no COL, mas foi caçado pelos editores dos grandes jornais e pelos usuários de redes sociais. “Uma Copa não se faz com hospitais”, disse o gordo. Naturalmente, os surfistas das redes sociais não devem ter se dado ao trabalho de buscar de onde veio tal declaração. Curiosamente, foi uma declaração dada em uma longa entrevista, onde o Fenômeno falava sobre o que era necessário para um mundial, como obras de mobilidade, estádios e infraestrutura aeroportuária.

Ainda na fatídica entrevista, ele defendeu o investimento pesado em setores como saúde e educação, mas que as exigências da FIFA eram baseadas em outros aspectos. Meses depois, ele criticou o atraso de nossas obras, bem como a cultura do “jeitinho brasileiro”. Enquanto isso, nosso douto ministro dos esportes declarava que nunca foi a um casamento em que a noiva não atrasasse. Bastou uma foto com o opositor e uma declaração dizendo que se sentia envergonhado por conta dos atrasos que seus antigos detratores ganharam novos adeptos. Com direito ao repúdio do ministro, da presidente e de um dos maiores aproveitadores e eleitoreiros da Copa, Romário.

O curioso, principalmente no último caso, é que muitos apoiadores do governo resolveram cair de pau no ex-craque obeso. A classe política da situação se doeu demais e agora ele é o mais novo duas caras do país. Seria até muito fácil dizer isso, se não houvesse crítica ao moroso processo de realização da Copa há meses, anos. Mas como dá trabalho pesquisar, caberá a ele o papel de vilão.
Quanto à FIFA? Bom, algumas vezes chego a me divertir com as críticas que dizem que a FIFA deitou e rolou no Brasil, que nos obrigaram a gastar o que gastamos, que não havia necessidade de nada disso e que ela é responsável pelo rombo em nossos cofres públicos. A diversão fica ainda maior quando essa crítica parte de gente que votou e continuará votando no PT, pois tudo faz ainda menos sentido.



Foi o PT que conseguiu trazer a Copa. Até aí, tudo lindo, ponto pro Lula. Foi o Lula que pediu junto à FIFA o aumento no número de cidades-sede. A recomendação da entidade máxima do futebol aconselhava de oito a dez sedes. Lula esticou a corda e pediu que o número fosse ampliado. Mesmo sabendo de nossas dificuldades em cumprir prazos e de nosso atraso em infraestrutura, eles cederam, mesmo com os avisos de Valcke, que também virou alvo por ser sincero demais. Com o aumento das sedes, naturalmente, nosso gasto seria elevado, mas pesariam dois fatores em nosso favor. O primeiro seria o legado, ampliado e cobrindo uma parte maior de nosso gigantesco do país. O segundo seria a maior mentira da Copa! A Copa da iniciativa privada.

Como previsto, nada disso aconteceu. Estádios superfaturados, estádios inúteis e superfaturados (os famosos elefantes brancos) como a Arena Amazônia, a Arena Pantanal e o estádio de Brasília (que nem sei mais como se chama) foram construídos ou remodelados. Alguns outros, como o Maracanã, por exemplo, foram entregues a empresas privadas sem que qualquer legado para o povo ou para os clubes de futebol perdurassem após a competição. Nós, através de nossos governantes, aceitamos o caderno de encargos da FIFA e nos comprometemos a cumprir suas exigências. Ressalto que a maioria delas seria benéfica para o país, mas não soubemos aproveitar e agora culpamos o evento. O mesmo deverá acontecer nas Olimpíadas, mas a bola da vez é a COPA. 



Somos o volante que tem vontade, mas não sabe correr. Somos o marido traído que pega a esposa com o amante no sofá de casa e vende o sofá. A culpa não é da Copa, a culpa não é da FIFA, ela é só nossa. Já perdemos o melhor que a Copa poderia nos oferecer. Resta-me torcer pelo hexa. Tudo muito amargo, mas não torcerei para que a seleção fracasse por conta disso. Em meio a tanta tristeza, merecemos essa pequena alegria.

“De todas as coisas pouco importantes do mundo, o futebol é a mais importante delas.” (Autor Desconhecido).

Thigu Soares

Birite: Guiness (Amarga e gostosa como a vida).

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