quarta-feira, 14 de maio de 2014

A Arte de Fabricar Verdades





Durante muitos anos de minha vida, sonhei ser jornalista esportivo. Achava o máximo observar o trabalho dos caras ali no gramado e nas cabines de transmissão. Cresci consumindo jornalismo e respirando jornalismo esportivo. Aprendi, mesmo antes de pensar em me render ao sonho, a admirar o trabalho de cada um. Considerava a imprensa esportiva uma grande referência para o próprio esporte, principalmente para o futebol. Acreditei que a imprensa tivesse real interesse no crescimento dos clubes de futebol. Fico triste em perceber o quanto errei.

A demissão de Jayme foi, em minha opinião, equivocada. Mas digo isso só por não gostar do Ney Franco. Acho que com o Ney Franco, teremos o mesmo nível de treinador, custando o dobro do preço do Jayme. É também uma opinião particular, acreditar que a demissão de Jayme não tenha sido conduzida da forma mais humana, íntegra e ideal. Só existem alguns pontos interessantes em relação a tudo isso. Será que o que foi noticiado foi mesmo a verdade? Será que o Jayme já estava demitido? Será que a diretoria não pretendia demiti-lo da forma correta, mas foi atropelada pelo vazamento. É possível e MUITO provável que assim seja, mas mesmo assim, erraram novamente.

A partir do vazamento das informações ou dos rumores, sei lá, a postura esperada seria de que alguém da diretoria ligasse para o Jayme e dissesse que a permanência dele estava sendo discutida pelos ‘chefes’ durante a tarde de segunda-feira. Isso não aconteceu. Pra mim, o maior erro ‘moral’ está aí. Mandar o treinador embora é do jogo. Eu não gostei da troca, não considerava o Jayme tão culpado assim, principalmente por conta do elenco e do Departamento Médico lotado. Mas não é aí que quero chegar.

O que considero incrível e triste é o comportamento da imprensa esportiva na exploração da notícia. Mais do que ninguém, não acredito em isenção e nem deixo de pensar que imprensa seja um comércio, mas me impressiona a diferença entre pesos e medidas com as quais a categoria em questão trata o Flamengo. As mudanças ocorridas na gestão, ainda com um saldo bastante positivo, deixaram a imprensa visivelmente desconfortável.

Naturalmente, como notado no último episódio, as notícias ainda vazam, dando a oportunidade para que os escribas da bola gerem uma crise que não aconteceria, caso as informações fossem mantidas em sigilo. Mesmo com o vazamento, as coisas não caminham mais como antes e fica claro que muita gente da imprensa perdeu sua boquinha, cobrir o Flamengo não parece mais uma mera troca de favores e amores. Digo isso com base no modo bem mais amistoso como trataram alguns casos graves na gestão anterior. Eis os fatos:

A gestão anterior demitiu o Andrade de um modo tão “cruel” quanto a atual demitiu o Jayme. Ainda assim, podemos e devemos colocar isso na conta do vazamento das informações.

A gestão anterior permitiu que o Zico saísse do clube com a pecha de ladrão, principalmente por acusações feitas pela personalidade mais danosa ao Clube em toda sua história. Personalidade que na noite de segunda, dizia ser um absurdo a falta de respeito como trataram um cara com tantos anos de Flamengo. Nesse caso, a atenção da grande imprensa foi muito pequena, principalmente se compararmos o Zico ao Jayme, com todo respeito ao Jayme, não dá pra entender.

A gestão anterior perdeu o Ronaldinho Gaúcho com direito a processo por falta de pagamentos, declarações estapafúrdias por parte da diretoria foram feitas em larga escala e a exposição de que o Luxemburgo foi fritado para satisfazer a vontade do dentuço. Mais uma vez, e observe que no último caso abordado temos milhões de escândalos e pixotadas simultâneas, a repercussão foi menor do que a demissão do Jayme.

Eu realmente gostaria de entender a defesa da moralidade sob a ótica do jornalista esportivo. Avaliar a demissão de um funcionário em sigilo e contratar outro para seu lugar antes de demiti-lo acontece até mesmo nas doutas redações do nosso país. Vazar essa notícia e criar um monstro pode ser do comércio, mas a diferença entre pesos e medidas não me parece bem explicada. 

Que a diretoria atual aprenda depois do papel ridículo que fez. Em minha opinião, repito, um péssimo negócio! Mas não tira o mérito daquilo que vem sendo realizado. Em tempo, o Flamengo foi eleito o clube mais transparente do ano de 2013. Peço reflexão aos nobres jornalistas esportivos, será mesmo que os atuais gestores do Flamengo sejam ‘farinha do mesmo saco’? Parece-me que ser farinha do mesmo saco é o maior interesse do segmento que pede profissionalização do futebol. É parecido com o que era dito sobre nossos estádios, mas isso eu falo depois.

Thigu Soares

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