Wanderlei Silva está à deriva.
Depois de faltar (ou fugir) dos comissários da Comissão Atlética de Nevada e
ser retirado do card do UFC 175, o Axe Murderer está ameaçado de ser demitido
da maior organização de MMA do planeta. Antes de avaliar o patético episódio,
acho fundamental avaliar a decadência técnica e de prestígio que vem sendo
atravessada pelo mito do pride.
Fazendo uma análise fria de seu
cartel, nota-se que Wand já não é o mesmo desde 2006, ainda nos tempos de
Pride. Com a aquisição do evento japonês pelo UFC, o careca de Curitiba voltou
à organização americana com um cartel negativo, contando com duas derrotas em
três lutas. Sendo uma delas, seu fatídico combate contra seu desafeto Vitor
Belfort. Seu maior objetivo desde sua volta era um só: positivar seu cartel na
organização, consolidar seu nome nos EUA, fortalecer sua imagem junto aos
brasileiros e poder ser um dos futuros integrantes brasileiros do Hall da Fama
do UFC. Como podemos notar, as coisas não estão acontecendo conforme o
planejado.
Decadência Técnica
Após sua volta, o sofrimento nas
primeiras cinco lutas foi visível, Wanderlei não parecia o mesmo. Já não era,
saiu do Pride sendo derrotado em suas duas últimas lutas e só venceu duas de
suas lutas (em tese, as mais fáceis) no período inicial de sua volta ao cage.
Cabe ressaltar que a luta que marcou sua volta ao UFC, apesar do resultado
negativo, foi histórica. No emocionante combate com Chuck Liddell, acabou
superado pelo Homem de Gelo em decisão unânime e inconteste dos jurados. Após a
vitória contra Keith Jardine, sofreu com duas derrotas emblemáticas e
consecutivas para Quinton Jackson e Rich Franklin. Sua crise técnica passou a
ser um assunto amplamente debatido e os boatos de sua aposentadoria começaram a
correr pela primeira vez. Wand culpou o corpo, bem como uma série de lesões mal
tratadas.
Uma Pausa
Após um ano e meio de
inatividade, tratando lesões e se preparando, Chris Leben foi posto na marca do
pênalti. A brincadeira não durou meio minuto. Sem ritmo, levou a pior num
infight e foi nocauteado de forma emblemática em sua volta. Os questionamentos
voltaram naturalmente e com muita força, novamente a aposentadoria voltava à
pauta e seu emprego passava a correr perigo. Gozando de prestígio e boas
vendas, principalmente no mercado asiático, o Cachorro Louco ganhou mais uma
luta teoricamente fácil, enfrentando o vietnamita Cung Le. A luta foi
interessante, apesar do nível técnico questionável, o brasileiro venceu por
nocaute, no final do segundo round.
Volta por cima?
Depois de ficar relativamente bem
na fita, foi escalado pelo UFC para estrelar junto com Vitor Belfort, o primeiro
TUF Brasil. Ao final da competição, ele teria sua tão sonhada revanche contra o
Fenômeno. Sua imagem saiu do reality show sem muitos estragos. O que vimos foi
uma polarização ainda maior de seus admiradores. Wanderlei saiu da zona de
ídolo inconteste e passou a ser herói para uns e vilão para outros. Sua postura
controversa gerou polêmica. Wand era demasiado desrespeitoso e suas convicções
colidiam diretamente com as de Vitor. Durante o programa, além das questões
comportamentais, Vitor se mostrou um técnico MUITO superior, mas faltava a
final... E ela não aconteceu! Vitor lesionou a mão, precisou ser operado, sendo
substituído em cima da hora por Rich Franklin, os dois já haviam se enfrentado
em 2009. É importante lembrar que Wanderlei aproveitou a lesão de Vitor para
duvidar de sua coragem, seu caráter e sua lesão, além de afirmar que estava
pronto e muito preparado para atropelá-lo. Mais uma vez, a boca funcionou mais
que os punhos. Tendo vencido apenas um round e demonstrando um cardio MUITO
fraco, foi novamente derrotado por decisão unânime, desta vez, dentro de sua
casa.
Quase nove meses depois,
retornando aos meio pesados, Wand teve mais uma grande oportunidade. Foi
convocado para estrelar o UFC Japão, lutando contra Brian Stann, a luta ganhava
alguns contornos de despedida, principalmente em caso de derrota. Mais uma vez,
venceu no final no segundo assalto, garantia uma sobrevida no UFC e mantinha
vivo, mesmo que distante, o sonho de positivar seu cartel e concorrer, no
futuro, a um posto no Hall da Fama.
Mais um TUF, um desafeto,
contradições e alguns embaraços
Com o objetivo de promover o TUF
brasileiro também em terras americanas, Dana White escolheu Chael Sonnen para
rivalizar com Wanderlei no TUF Brasil 3. Seria mais fácil vender um TUF
estrangeiro contando com um dos maiores vendedores de PPV do evento. Mais do
que isso, Dana White colocaria frente a frente dois falastrões que se odeiam.
Desta vez, o brasileiro não teria um oponente educado (por vezes até sem sal)
como Vitor. Indo além, o brazuca teria a chance de recuperar o prestígio
perdido na primeira edição do TUF Brasil.
O tiro saiu pela culatra! Já no
início de programa, após uma série de provocações por parte do brasileiro, os
dois se engalfinharam no campo de treinamento. Como se não bastasse levar a
pior, tendo sido facilmente derrubado e golpeado por Sonnen, o Cachorro Louco
perderia um de seus técnicos (Dida), depois de um ato covarde sem precedentes.
Dentro da competição, notei mais algumas
coisas. Sua equipe de auxiliares foi muito mais bem montada que a da primeira
edição, o grande mestre Fábio Gurgel salvou a lavoura, impedindo uma nova surra
técnica contra o time do careca. Mesmo assim, isso não foi o suficiente para torná-lo
o técnico vencedor. Minhas outras
observações são mais comportamentais, mas não foram notadas somente por mim.
Demente teve seu caminho trilhado e facilitado por Wanderlei sempre que
possível, a exemplo daquilo que fez Vitor com Mutante, tendo sido alvo de
críticas por isso. Ressalte-se que Vitor ao menos conseguiu colocar Mutante na
final (já o Wand...). Outro comportamento bem questionável foi o de contrariar
o que havia dito a respeito do casamento de lutas de atletas de mesma academia.
Foi pedra contra seu oponente no primeiro TUF, fez o mesmo no TUF3 e recusou-se
a admitir.
Sua imagem terminou o TUF pior do
que começou, mas ainda restava a luta. Sua redenção estaria próxima, contra um
desafeto falastrão e sem TRT. A tarefa seria simples, bater o peso, treinar
defesa de quedas e obrigar Sonnen a trocar com ele. Como se todas as máscaras
já caídas não fossem suficientes, Wanderlei lesionou a mão (como tanto criticou
com Vitor) e pediu um adiamento da luta. Com o combate finalmente remarcado,
esperávamos o desfecho da história... Mas Wanderlei resolveu fugir de uma
avaliação surpresa da Comissão Atlética de Nevada! Simples assim!
A primeira notícia era de que ele
havia faltado aos exames, depois Sonnen divulgou que ele fugiu! Sim, ele fugiu!
Quase dois dias depois do acontecimento, o brasileiro subiu um vídeo na
internet, onde explica sua INCRÍVEL versão dos fatos! Não pretendo
ressaltar os furos e bizarrices de sua versão, mas não acho normal que eu
receba uma visita da Comissão Atlética, não assine pois tudo está em inglês e
eu resolva deixar o cara lá na academia! Pegar meu carro e ir embora! Wanderlei
mora nos EUA a tempo suficiente pra saber que os procedimentos de lá não são à
Bangu. Ligar pro advogado, pra um aluno, pro Dana White, pra um tradutor? Não!
Vou deixar o cara aqui, pegar meu carro e ir embora, de boas! Dane-se! Vejo
isso depois de voltar do Brasil! Justificar o injustificável é uma das tarefas
mais difíceis de um homem.
Sob a suspeição de todos, sem
prestígio de seus torcedores, da imprensa e de seus companheiros de profissão,
a carreira de Wand no UFC está na mão de Dana White. Ainda não foi demitido,
talvez por seu valor comercial, mas me parece que ele não terá mais do que uma
luta para encerrar sua carreira. Vamos aguardar.
Thigu Soares