quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Bom Senso FC





Como estou tentando movimentar os blogs novamente, escrever é necessário. Mais que isso, não consigo deixar de lado alguns temas espinhosos. O Bom Senso FC foi uma iniciativa bastante interessante, por isso será o tema da vez. Confesso que assim que soube da notícia, me enchi de esperança e senti uma pontinha de orgulho por ver que nossos jogadores de futebol estão saindo da inércia. Logo depois, esse sentimento foi dando lugar a uma série de dúvidas e muita curiosidade, além de não conseguir pensar nos desdobramentos naturais de cada uma das reivindicações.  Acredito que as propostas, pelo menos as principais, sejam pautadas num grande bom senso, mas ainda assim, a teoria e prática são separadas por um pequeno abismo.

Admito, fiquei bastante impressionado com a presença do Alex no grupo. Depois de ensaiar declarações desnecessárias e polêmicas, fazer parte de um grupo que, em tese, prima pelo bom senso, me deixou boquiaberto. Ao contrário do que Alex andou adubando por aí, o horário dos jogos não está no ‘filé’ das reivindicações, natural. Outro fato impressionante, e foi esse um dos que mais me deixou feliz, foi ver que existe algum tipo de união entre nossos jogadores. Em um cenário onde cada um cuida do seu, esse tipo de união acaba dando esperança ao amante do esporte bretão.

Os jogadores clamam por uma temporada mais curta e um número menor de jogos. Esse é o aspecto inicial das propostas, o número de jogos na temporada é um absurdo e por esse motivo, cada vez mais as lesões se multiplicam nessa fase do ano. Acho que esse pedido é bem razoável, os jogadores inclusive se escoram na ideia de que, com uma temporada mais enxuta, a qualidade dos jogos aumentará. Mesmo assim, é preciso parar para considerar alguns aspectos. Para esse caso especificamente, pesará contra a ideia deste ‘sindicato’ o fato de que os detentores dos direitos de transmissão reduzirão seus investimentos, no mínimo, proporcionalmente. Com menos dinheiro entrando, nossas estrelas topariam jogar por salários mais módicos e coerentes com uma ‘nova realidade’ dos clubes? Alguns falam no fim dos estaduais, eu sou contra. Mas acho que o modelo pode e deve ser revisto.

As principais ideias têm continuidade com a adequação do calendário brasileiro ao calendário europeu. Essa questão é complicadíssima. Primeiro, porque eu duvido que seja bom senso jogar durante os três meses do verão, creio que esse fator climático rapidamente geraria uma nova reivindicação por parte dos atletas, fisiologistas, treinadores etc. Segundo porque acho que jogar em temperaturas tão altas jogaria por terra o argumento inicial de melhoria na qualidade do futebol apesentado. Por fim, gostaria de saber se nossos atletas estão preparados para passar o recesso das festas de fim de ano comportando-se de modo profissional e não podendo curtir seus passeios de iate no verão da própria terra. Já fui muito a favor da adequação do calendário ao modelo europeu. Hoje em dia, analisando de forma mais fria, não sei se toparia, acho que nossas diferenças climáticas e culturais devem ser consideradas. Mesmo assim, é fundamental que se adaptem as janelas de transferência.

A questão das férias ininterruptas é bastante interessante. Primeiro porque sou plenamente a favor, segundo porque ela gera uma possibilidade muito grande de tropeço dentro das próprias propostas do grupo. Férias ininterruptas precisam ser um direito do jogador de futebol. Após uma temporada desgastante, acho fundamental que o jogador tenha um longo e ininterrupto período de descanso. O problema surge justamente se adaptarmos o calendário ao modelo europeu, ‘plotando’ um sobre o outro. A partir da adaptação do calendário, teríamos o mês de férias para junho. Consequentemente, a participação dos clubes em fase final da Libertadores acabaria fazendo com que as férias fossem rompidas/adiadas. Isso tudo, sem falar no intenso calendário de eventos esportivos de grande porte a serem realizados no país até 2016. Em minha opinião, essa questão só reforça a minha tese de que a adaptação do calendário ao modelo europeu não daria 100% certo.

Por fim, o último dos principais itens da lista, o tal do ‘fair play financeiro’. Confesso que achei o termo curioso. Talvez este seja o caso mais espinhoso de todos, pois engloba uma série de fatores. Sou completamente a favor do pensamento dos jogadores, de forma incondicional. Entretanto, para que isso ocorra, muitas mudanças e em diversas esferas e entidades precisam acontecer. Para que os clubes possam se comprometer decentemente com suas contas, o prolongamento da dívida dos clubes passa a ser um fator chave, até para o soerguimento financeiro dos que vêm tentando sanear seus problemas e dívidas. Acho que o alongamento do prazo para pagamento das dívidas deveria ser alongado com a mudança nos regulamentos, punindo de forma pesada os clubes que não cumprem com suas obrigações mínimas.  A adequação dos salários é uma solução viável, afinal, cada vez mais, nossos clubes pagam salários europeus a jogadores de futebol. Como contrapartida ao cumprimento das obrigações financeiras, os clubes deveriam, poderiam e provavelmente irão, passar a exigir uma postura mais profissional de nossos artistas da bola. O fair play moral, profissional ou comportamental seria cobrado da mesma forma.  

Com essas ideias juntas e sendo acatadas, será mesmo que nossos jogadores continuariam considerando uma boa ideia o fluxo natural de ajuste nos salários? Fico curioso quanto a isso. Não sei até que ponto o bom senso prevalecerá caso o bolso seja tocado. Torço para que dê certo. 

Birite: Red Stripe - Jamaicana

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