Como estou tentando movimentar os
blogs novamente, escrever é necessário. Mais que isso, não consigo deixar de
lado alguns temas espinhosos. O Bom Senso FC foi uma iniciativa bastante
interessante, por isso será o tema da vez. Confesso que assim que soube da notícia, me enchi de esperança e
senti uma pontinha de orgulho por ver que nossos jogadores de futebol estão
saindo da inércia. Logo depois, esse sentimento foi dando lugar a uma série de
dúvidas e muita curiosidade, além de não conseguir pensar nos desdobramentos naturais
de cada uma das reivindicações. Acredito
que as propostas, pelo menos as principais, sejam pautadas num grande bom
senso, mas ainda assim, a teoria e prática são separadas por um pequeno abismo.
Admito, fiquei bastante
impressionado com a presença do Alex no grupo. Depois de ensaiar declarações
desnecessárias e polêmicas, fazer parte de um grupo que, em tese, prima pelo
bom senso, me deixou boquiaberto. Ao contrário do que Alex andou adubando por
aí, o horário dos jogos não está no ‘filé’ das reivindicações, natural. Outro
fato impressionante, e foi esse um dos que mais me deixou feliz, foi ver que
existe algum tipo de união entre nossos jogadores. Em um cenário onde cada um
cuida do seu, esse tipo de união acaba dando esperança ao amante do esporte
bretão.
Os jogadores clamam por uma
temporada mais curta e um número menor de jogos. Esse é o aspecto inicial das
propostas, o número de jogos na temporada é um absurdo e por esse motivo, cada
vez mais as lesões se multiplicam nessa fase do ano. Acho que esse pedido é bem
razoável, os jogadores inclusive se escoram na ideia de que, com uma temporada
mais enxuta, a qualidade dos jogos aumentará. Mesmo assim, é preciso parar para
considerar alguns aspectos. Para esse caso especificamente, pesará contra a
ideia deste ‘sindicato’ o fato de que os detentores dos direitos de transmissão
reduzirão seus investimentos, no mínimo, proporcionalmente. Com menos dinheiro
entrando, nossas estrelas topariam jogar por salários mais módicos e coerentes
com uma ‘nova realidade’ dos clubes? Alguns falam no fim dos estaduais, eu sou
contra. Mas acho que o modelo pode e deve ser revisto.
As principais ideias têm
continuidade com a adequação do calendário brasileiro ao calendário europeu.
Essa questão é complicadíssima. Primeiro, porque eu duvido que seja bom senso
jogar durante os três meses do verão, creio que esse fator climático
rapidamente geraria uma nova reivindicação por parte dos atletas,
fisiologistas, treinadores etc. Segundo porque acho que jogar em temperaturas
tão altas jogaria por terra o argumento inicial de melhoria na qualidade do
futebol apesentado. Por fim, gostaria de saber se nossos atletas estão
preparados para passar o recesso das festas de fim de ano comportando-se de
modo profissional e não podendo curtir seus passeios de iate no verão da
própria terra. Já fui muito a favor da adequação do calendário ao modelo
europeu. Hoje em dia, analisando de forma mais fria, não sei se toparia, acho
que nossas diferenças climáticas e culturais devem ser consideradas. Mesmo
assim, é fundamental que se adaptem as janelas de transferência.
A questão das férias
ininterruptas é bastante interessante. Primeiro porque sou plenamente a favor,
segundo porque ela gera uma possibilidade muito grande de tropeço dentro das
próprias propostas do grupo. Férias ininterruptas precisam ser um direito do
jogador de futebol. Após uma temporada desgastante, acho fundamental que o
jogador tenha um longo e ininterrupto período de descanso. O problema surge
justamente se adaptarmos o calendário ao modelo europeu, ‘plotando’ um sobre o outro.
A partir da adaptação do calendário, teríamos o mês de férias para junho. Consequentemente,
a participação dos clubes em fase final da Libertadores acabaria fazendo com
que as férias fossem rompidas/adiadas. Isso tudo, sem falar no intenso
calendário de eventos esportivos de grande porte a serem realizados no país até
2016. Em minha opinião, essa questão só reforça a minha tese de que a adaptação
do calendário ao modelo europeu não daria 100% certo.
Por fim, o último dos principais
itens da lista, o tal do ‘fair play financeiro’. Confesso que achei o termo
curioso. Talvez este seja o caso mais espinhoso de todos, pois engloba uma
série de fatores. Sou completamente a favor do pensamento dos jogadores, de
forma incondicional. Entretanto, para que isso ocorra, muitas mudanças e em
diversas esferas e entidades precisam acontecer. Para que os clubes possam se comprometer
decentemente com suas contas, o prolongamento da dívida dos clubes passa a ser
um fator chave, até para o soerguimento financeiro dos que vêm tentando sanear
seus problemas e dívidas. Acho que o alongamento do prazo para pagamento das
dívidas deveria ser alongado com a mudança nos regulamentos, punindo de forma
pesada os clubes que não cumprem com suas obrigações mínimas. A adequação dos salários é uma solução viável,
afinal, cada vez mais, nossos clubes pagam salários europeus a jogadores de
futebol. Como contrapartida ao cumprimento das obrigações financeiras, os
clubes deveriam, poderiam e provavelmente irão, passar a exigir uma postura
mais profissional de nossos artistas da bola. O fair play moral, profissional
ou comportamental seria cobrado da mesma forma.
Birite: Red Stripe - Jamaicana
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