Depois de chocar o mundo goleando
a atual campeã mundial, a Holanda virou, junto com a Alemanha, a bola da vez
dos analistas táticos nessa Copa Brasileira. Vou procurar fazer uma análise bem
simples, sem muita frescura, procurando ser tão simples quanto foi Van Gaal, ao
armar sua seleção. Para muitos, a
vitória da Holanda foi uma surpresa, não concordo. A goleada foi uma surpresa,
uma vitória seria um placar normal em um confronto entre as seleções que
fizeram o duelo final do último mundial.
O maior mérito de Van Gaal foi
sua humildade. É claro, não podemos deixar de lado sua ousadia ao renovar quase
que completamente o grupo que quase fez história na África. Seu grupo foi
recheado de jovens, muitos ainda jogando no (hoje esvaziado) campeonato holandês.
Assim, seu maior desafio seria conseguir parar o ímpeto ofensivo da Espanha.
Como fazer isso com jogadores tão jovens e inexperientes? Com humildade. Van
Gaal descartou qualquer lembrança ou alusão ao futebol holandês tradicional.
Sem trocas de posição, sem jogadores rodados e habilidosos! Entram em campo... Oito
operários e um esquema humilde, ciente de suas limitações.
Van Gaal tinha poucos limões para
fazer uma boa caipirinha, mas os poucos que têm, dão bom suco. Um time se faz
com onze jogadores. Assim sendo, os oito operários, correriam por três
companheiros diferenciados. Sortudo é o técnico que possui seus jogadores diferenciados
do meio pra frente. Mesmo com Snejder ainda em marcha lenta, ele fez o
suficiente para permitir que Robben e Van Persie tivessem brilho e fluidez.
Atacar não seria um problema, em tese. O problema era fazer isso com equilíbrio
e suportando as investidas espanholas. Para isso, um 5-3-2, contando com três
zagueiros e dois volantes. A compactação defensiva seria formada por uma
primeira linha de cinco jogadores, com sobras para eventuais avanços dos pontas
e com boa vigilância a Diego Costa. Os laterais só avançariam um de cada vez,
com preferência para Blind. Na segunda linha, os três do meio teriam o auxílio
de Robben na composição. Na saída de bola, Van Persie perturbaria como fosse
possível.
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O Jogo |
Mesmo tendo torcido pela Holanda,
não vi um domínio sobrenatural durante todo o jogo. Em minha humilde opinião,
tivemos um primeiro tempo equilibrado, com vantagem para a Espanha e um segundo
tempo amplamente dominado pelos laranjas. Na segunda etapa, notei um massacre
técnico, tático e psicológico.
O primeiro tempo começou com um
domínio até bem grande da Espanha, o esquema do Del Bosque é o mesmo de 2008,
2010, 2012... Só é mais velho e conta com um bom centroavante. Após mais um
penal padrão FIFA, a Espanha abriu o placar. Vi mais pênalti em Diego que em
Fred, no caso do ibero-brasileiro houve contato, no de Fred, no máximo o pedido
do telefone. Ainda no primeiro tempo, os campões tiveram a chance de ampliar o
placar após passe ESPETACULAR de Iniesta para David Silva. O jogo já estava
mais parelho e a Holanda já ensaiava seus botes em contragolpes rápidos.
Mas o maior problema parece ser e
ter sido a idade. Xavi e Iniesta já não possuem o mesmo vigor, isso acaba sendo
refletido na falta de pegada no meio, principalmente no segundo tempo e quando
expostos a jogadas mais velozes. Pra completar parte do problema de Del Bosque,
Thiago Alcântara não veio para o Brasil e Koke, parece mais reserva do Iniesta
que do Xavi. Sendo assim, Xavi, o velhinho, fica sem substituto, e os espanhóis
começam a patinar a partir daí. Fábregas poderia ser solução, mas não sei o que
houve com o futebol do rapaz desde que saiu da Inglaterra.
O jogo mudou depois da chance de
ampliar o placar ser desperdiçada por Silva. Em uma ofensiva, Blind recebe a
bola e lança Van Persie, que faz o gol de cabeça mais incrível que minha
memória consegue lembrar. A maré virada ali. Antes mesmo do gol, a marcação
holandesa já havia encontrado seu encaixe, ficando dependente de jogadas
individuais ou passes muito bem descolados por alguns dos gênios espanhóis.
O segundo tempo começou com a
mesma eficiência defensiva dos holandeses e com certa apatia espanhola. Os
jovens operários laranjas passaram a se comportar com maior vigor e
naturalidade, arrefecendo a fúria ofensiva dos adversários. Em menos de dez
minutos, Blind lançou novamente, dessa vez encontrando Robben, disposto a
dominar, cortar e finalizar pro fundo da rede. Se fosse um jogo no Brasil,
diria que foi ali que o caldo entornou. Como não é, prefiro dizer que foi aí
que toureiro levou a pior.
O terceiro gol Chegou quase com
20 minutos de jogo, em gol irregular, mas que já mostrava uma Espanha abalada e
um Casillas claudicante. O goleirão falhou feio sete minutos depois, deixando
clara a importância do comprometimento defensivo do centroavante. O incômodo do
9, pode dar certo, e deu! Depois de uma bela jogada, Robben, o melhor em campo,
deu números finais ao massacre.
O placar final retratou o segundo
tempo, expôs a fragilidade defensiva, física e psicológica dessa Espanha que
parece não saber correr atrás de prejuízo. Ao contrário de muitos, não creio no
Chile como surpresa, mas precisaremos ver Del Bosque ser tão humilde, sortudo e
genial quanto Van Gaal.
Quanto aos holandeses... Não sei exatamente até onde podem ir, principalmente pela jovialidade do grupo, mas creio que até às quartas possam chegar com relativa tranquilidade.
Birite: Amstel
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