terça-feira, 17 de junho de 2014

11 Homens e 1 Segredo






Depois de chocar o mundo goleando a atual campeã mundial, a Holanda virou, junto com a Alemanha, a bola da vez dos analistas táticos nessa Copa Brasileira. Vou procurar fazer uma análise bem simples, sem muita frescura, procurando ser tão simples quanto foi Van Gaal, ao armar sua seleção.  Para muitos, a vitória da Holanda foi uma surpresa, não concordo. A goleada foi uma surpresa, uma vitória seria um placar normal em um confronto entre as seleções que fizeram o duelo final do último mundial.

O maior mérito de Van Gaal foi sua humildade. É claro, não podemos deixar de lado sua ousadia ao renovar quase que completamente o grupo que quase fez história na África. Seu grupo foi recheado de jovens, muitos ainda jogando no (hoje esvaziado) campeonato holandês. Assim, seu maior desafio seria conseguir parar o ímpeto ofensivo da Espanha. Como fazer isso com jogadores tão jovens e inexperientes? Com humildade. Van Gaal descartou qualquer lembrança ou alusão ao futebol holandês tradicional. Sem trocas de posição, sem jogadores rodados e habilidosos! Entram em campo... Oito operários e um esquema humilde, ciente de suas limitações.

Van Gaal tinha poucos limões para fazer uma boa caipirinha, mas os poucos que têm, dão bom suco. Um time se faz com onze jogadores. Assim sendo, os oito operários, correriam por três companheiros diferenciados. Sortudo é o técnico que possui seus jogadores diferenciados do meio pra frente. Mesmo com Snejder ainda em marcha lenta, ele fez o suficiente para permitir que Robben e Van Persie tivessem brilho e fluidez. Atacar não seria um problema, em tese. O problema era fazer isso com equilíbrio e suportando as investidas espanholas. Para isso, um 5-3-2, contando com três zagueiros e dois volantes. A compactação defensiva seria formada por uma primeira linha de cinco jogadores, com sobras para eventuais avanços dos pontas e com boa vigilância a Diego Costa. Os laterais só avançariam um de cada vez, com preferência para Blind. Na segunda linha, os três do meio teriam o auxílio de Robben na composição. Na saída de bola, Van Persie perturbaria como fosse possível.


O Jogo


Mesmo tendo torcido pela Holanda, não vi um domínio sobrenatural durante todo o jogo. Em minha humilde opinião, tivemos um primeiro tempo equilibrado, com vantagem para a Espanha e um segundo tempo amplamente dominado pelos laranjas. Na segunda etapa, notei um massacre técnico, tático e psicológico.

O primeiro tempo começou com um domínio até bem grande da Espanha, o esquema do Del Bosque é o mesmo de 2008, 2010, 2012... Só é mais velho e conta com um bom centroavante. Após mais um penal padrão FIFA, a Espanha abriu o placar. Vi mais pênalti em Diego que em Fred, no caso do ibero-brasileiro houve contato, no de Fred, no máximo o pedido do telefone. Ainda no primeiro tempo, os campões tiveram a chance de ampliar o placar após passe ESPETACULAR de Iniesta para David Silva. O jogo já estava mais parelho e a Holanda já ensaiava seus botes em contragolpes rápidos.

Mas o maior problema parece ser e ter sido a idade. Xavi e Iniesta já não possuem o mesmo vigor, isso acaba sendo refletido na falta de pegada no meio, principalmente no segundo tempo e quando expostos a jogadas mais velozes. Pra completar parte do problema de Del Bosque, Thiago Alcântara não veio para o Brasil e Koke, parece mais reserva do Iniesta que do Xavi. Sendo assim, Xavi, o velhinho, fica sem substituto, e os espanhóis começam a patinar a partir daí. Fábregas poderia ser solução, mas não sei o que houve com o futebol do rapaz desde que saiu da Inglaterra.

O jogo mudou depois da chance de ampliar o placar ser desperdiçada por Silva. Em uma ofensiva, Blind recebe a bola e lança Van Persie, que faz o gol de cabeça mais incrível que minha memória consegue lembrar. A maré virada ali. Antes mesmo do gol, a marcação holandesa já havia encontrado seu encaixe, ficando dependente de jogadas individuais ou passes muito bem descolados por alguns dos gênios espanhóis.



O segundo tempo começou com a mesma eficiência defensiva dos holandeses e com certa apatia espanhola. Os jovens operários laranjas passaram a se comportar com maior vigor e naturalidade, arrefecendo a fúria ofensiva dos adversários. Em menos de dez minutos, Blind lançou novamente, dessa vez encontrando Robben, disposto a dominar, cortar e finalizar pro fundo da rede. Se fosse um jogo no Brasil, diria que foi ali que o caldo entornou. Como não é, prefiro dizer que foi aí que toureiro levou a pior.

O terceiro gol Chegou quase com 20 minutos de jogo, em gol irregular, mas que já mostrava uma Espanha abalada e um Casillas claudicante. O goleirão falhou feio sete minutos depois, deixando clara a importância do comprometimento defensivo do centroavante. O incômodo do 9, pode dar certo, e deu! Depois de uma bela jogada, Robben, o melhor em campo, deu números finais ao massacre. 

O placar final retratou o segundo tempo, expôs a fragilidade defensiva, física e psicológica dessa Espanha que parece não saber correr atrás de prejuízo. Ao contrário de muitos, não creio no Chile como surpresa, mas precisaremos ver Del Bosque ser tão humilde, sortudo e genial quanto Van Gaal.
Quanto aos holandeses... Não sei exatamente até onde podem ir, principalmente pela jovialidade do grupo, mas creio que até às quartas possam chegar com relativa tranquilidade.

Birite: Amstel

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