Antes do início da temporada
2015, minha previsão era de mais um campeonato carioca modorrento, com uma
fórmula bizarra, adotada inicialmente em caráter emergencial por conta da Copa
do mundo de 2014. Curiosamente, mesmo sabendo com MUITA antecedência da
realização da Copa e tendo um péssimo produto em mãos, a fórmula só piorou.
A quantidade de clubes permanece
bizarra. Não temos um futebol forte o suficiente no Estado para um campeonato
tão inchado, mas a síndrome de Robin Wood na Federação permanecia escorada no
inchaço da competição. Tudo caminhava para o mesmo triste espetáculo de sempre,
contando, é claro, com a submissão dos grandes do Rio de Janeiro, mesmo com o
episódio da eleição da FERJ, não havia nenhum tipo de postura mais enérgica.
Com a vitória do anacrônico
Eurico Miranda nas eleições do Vasco, ainda não seria possível prever o que
aconteceria. Confesso que imaginei somente uma presença política mais forte,
certa intimidação e alguns favorecimentos dentro da Federação. Eurico foi além,
com o apoio de Rubens Lopes (escudeiro, lacaio, amante, parceiro ou qualquer
coisa do gênero), propôs uma solução bizarra visando a solução de todos os
problemas do campeonato carioca. Baixar os ingressos, ignorar mandos de campo
etc.
Sua proposição foi aceita pelos
pequenos, incluindo o maior deles, o Botafogo. Podemos notar, desde o princípio
que a proposta de modernização e profissionalização da gestão do Botafogo não
passou do prefácio. Ignorando a pouca importância e o baixo protagonismo da
quarta força do Rio de Janeiro, as pessoas queriam saber o que pretendia Eurico
com tais medidas. A resposta é simples, bem simples. Enfraquecer
financeiramente e desestabilizar Flamengo e Fluminense, forçando-os a
esvaziarem o campeonato carioca e conseguindo por consequência, maximizar suas
baixas possibilidades de título. Some-se ao problema com o tricolor a interminável
discussão, agora promovida a guerra, sobre a utilização do lado Sul.
O golpe financeiro vem com base
em dois fatores. O primeiro fator baseia-se no fato de possuir uma pocilga um
estádio próprio. Com baixo custo operacional e um tamanho adequado ao máximo de
interesse que tais jogos podem gerar o Maracanã não lhe faz falta em um
campeonato de atratividade tão baixa. O Botafogo surfou na mesma onda,
acreditando que o Engenhão estará liberado e ganhando a proteção de Eurico e a
parceria no uso de São Januário, caso o problemático estádio do Pan venha a
apresentar mais problemas.
O segundo ponto é ainda mais inteligente e baixo. Com a promoção de meia-entrada compulsória e o custo operacional elevado do Maracanã, as ações promocionais para os programas de sócio-torcedor tornam-se inviáveis. Mais que isso! Se o campeonato carioca não ajuda a alavancar o número de ST’s, ele consegue atrapalhar quando não gera vantagem.
Mas o Vasco e o Botafogo também tem um programa de ST, não tem? Tem sim! Mas não funcionam e nem tem relevância. Assim sendo, ele sequer “corta na própria carne”. Entendam, a maior jogada do Eurico não é gerar o prejuízo financeiro. Seu desejo maior é ganhar esse carioca, resgatar, mesmo que da forma mais falsa e ilusória possível, a ideia de que ele trouxe o Vasco de volta ao caminho das glórias.
O problema é que a falta de um
programa decente de sócio-torcedor acabou fomentando o maior tiro no pé de toda
essa maravilhosa e baixa (as usual) estratégia do homem do charuto. A bizarra
ideia, com direito a convocação para reunião e tudo, de criar um plano de ST
para a Federação do Estado do Rio de Janeiro, a federação que além de praticar
a taxa mais alta do Brasil, lucra mais com renda que os clubes que a ela
pertencem e ainda deixa de repartir com seus federados suas receitas de
patrocínio!
A partir daí, Flamengo e Fluminense decidiram
que não mais continuariam adotando posturas cômodas e pouco contundentes.Melhor
dizendo, Flamengo e Fluminense colocaram, finalmente, o pau na mesa e sinalizam
com um racha definitivo. Não fosse a falta de tempo hábil e os compromissos envolvendo
o Carioca, ouso afirmar que a dupla, junto com o consórcio do Maracanã e outras
partes interessadas, cairiam dentro da ideia de um torneio de verão simultâneo ao
campeonato da FERJ.
Avaliando o copo meio cheio,
espero que isso ocorra no ano que vem, mas que esse ano, mesmo sendo disputado
sob protesto, que a dupla jogue o Carioqueta e faça valer a lógica de seus
elencos, fazendo a final do campeonato. Que dê Flamengo, mas em caso de Fla x
Flu na final, já teremos vencido o amadorismo e a intransigência de pessoas e
entidades que buscam sua perpetuação no poder para interesse próprio, vendo no
atraso do futebol o maior ganho de suas estratégias medíocres.
Que Flamengo, Fluminense e suas
respectivas torcidas entendam que é preciso peitar esse anacronismo para que o
futebol carioca (que nunca viu o presente) possa ser carregado do passado para
o futuro.
SRN